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A história da gruta de Nossa Senhora de Lourdes no Parque da Matriz

Alguns moradores do bairro Parque da Matriz e Vale do Sol irão lembrar de uma pequena gruta em devoção a Nossa Senhora de Lourdes, construída num barranco, ao pé de uma torre de alta tensão, próxima ao Parcão e ao prédio da Secretaria de Educação, porém são poucos os que conhecem essa história que resgatamos com exclusividade aqui no site Sui Generis. Muitas lendas são contadas a respeito da gruta, hoje escondida pelo mato e que o poder público deveria resgatar, pelo seu valor religioso e histórico para Cachoeirinha. O relato foi feito pela filha do devoto da santa, Michelle Latorres, que hoje mora em SC. Ela residiu com o pai por anos, no mesmo bairro e presenciou toda a fé do seu Vanderley Ribeiro, que construiu a gruta e por anos a manteve naquele local. O seu saudoso pai foi um taxista, que acabou se contaminando pelo vírus HIV, entrou em depressão e faleceu em 2016


Amor, família e devoção à Nossa Senhora de Lourdes : A história real da gruta


Já ouvi diversas histórias sobre a pequena gruta, que guarda uma santa, na avenida principal do Parque da Matriz. Muitas delas, ligavam a construção da grutinha a uma possível homenagem a alguém que ali havia falecido. Na verdade, a história é outra e ela se entrelaça diretamente com a minha e da minha família. O local fica na avenida Monteiro Lobato, no bairro Parque da Matriz, em Cachoeirinha, no estado do Rio Grande do Sul. Ali, aconteceu, então, uma linda história de devoção e carinho.

Vanderley Ribeiro e a história da construção da gruta em louvor à Nossa Senhora de Lourdes


Em 1990, o então taxista, e empresário Vanderley Carlos Ribeiro construiu no pé do morro uma homenagem à Santa Nossa Senhora de Lourdes. A pequena “capela” foi construída embaixo de uma torre de alta tensão com o intuito de permanecer por muitos anos sem necessidade de ser deslocada e até pouco tempo atrás ela ainda existia. A verdadeira história por trás desta homenagem, por muitos desconhecida, é de que o casal, Vanderley e sua esposa Marta Latorres Ribeiro, ao se conhecerem deram seu primeiro beijo no mirante do morro da Embratel nos anos 1980, em Porto Alegre. Lá também iam com frequência visitar a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes que fica na subida deste morro. A gruta fica em um local lindo, onde brota água geladinha do morro. Quando criança, fomos muitas vezes lá. Lembro de ficarmos naquele local fresco, arejado, amplo, lindo e que meus pais contemplavam a imagem sempre. Compravam também as pequenas estátuas dela e levavam para casa.

Michelle e a lembrança dos pais numa linda história de amor e fé


Eu nasci no dia 08 de dezembro de 1982, dia da Nossa Senhora da Conceição. No ano de 1986, fomos morar no bairro Parque da Matriz, na rua Maringá, número 631. Quando nos mudamos, meu pai fez algumas pequenas modificações, como a colocação de portão, o capricho nas paredes com pedras que ele mesmo instalou e tínhamos, também, um lindo jardim na frente. E por lá vivemos todos até os anos 2000. Os meus pais ainda viveram mais uns anos naquela casa, mas infelizmente não conseguiram pagar o financiamento, perdendo-a então. Pelo o que soube, posteriormente ela foi à leilão e hoje é lar de outra família.


No dia da construção dessa grutinha, lembro do meu pai estacionar o fusca ali mesmo naquela passada de rua. Na época, era tudo deserto. Ele preparou tudo para que ficasse uma pequena homenagem à santa de que eles tanto gostavam. Fez a escavação no morro, construiu com cimento a pequena gruta e lembro até de como escorou com madeiras para que ela pudesse secar no formato arredondado. Durante a construção, que levou alguns dias, lembro dos meus pais tomando chimarrão em momentos ensolarados. Internamente ele colocou a imagem da santa fixada com cimento e deixou espaço para que velas fossem acesas. Criou também uma espécie de fachada, onde aparecia o nome da santa e o ano em que a gruta foi construída. Do lado esquerdo, meu pai montou uma pequena churrasqueira e ali passamos alguns finais de semana assando churrasco e contemplando a construção.

A gruta está coberta pelo mato e por árvores e não se sabe se a imagem ainda está por lá


Quase todas as noites, ao voltar do trabalho, ia até lá para ascender uma vela. No barranco, também tinha um pequeno banco de cimento, que nos recostávamos para aproveitar os momentos. Não havia tanto movimento de carros como hoje e então era um lugar de uma certa paz. Meu pai tinha muito esmero e lembro dele indo até lá inúmeras vezes para plantar árvores e flores, cuidar da grama, aparar o mato e lavar a gruta. A intenção era sempre fazer algo para melhorar o espaço.


A rua fica na saída do bairro e meu pai passar por ali todos os dias. Então, fazia questão de deixar tudo sempre limpo e organizado, caso visse algo fora do lugar, parava para arrumar. Muitas dessas vezes eu estava junto deles e ajudava também. Com o tempo, lembro que ele teve que repor a santa pois começaram a roubar as estátuas. Meu pai, então, mandou fazer em um serralheiro um portãozinho, pintou de preto e colocou um cadeado que abria quando ia lá para limpar. Mesmo assim, davam um jeito de roubar.


Por outro lado, sempre que íamos tinham velas acesas, pois outras pessoas gostavam e também cuidavam, plantando flores, deixando fotos de pessoas queridas e imagens de outras santas. De alguma forma, a comunidade também aproveitava da paz que aquele local transmitia.


Michelle reside em SC e quer resgatar a gruta construída pelo pai em 1990


Eu quis contar essa história para homenagear meu pai, que construiu esse espaço, e neste ano estaria fazendo 64 anos (16/02) - ele faleceu em 2016. Aquele que me deu a vida e que dedicou muito da sua a mim. Minha homenagem está sendo feita após um período longo da sua morte, pois antes não tive forças para pensar e lembrar das coisas boas que vivemos. Hoje, já menos entristecida, consigo voltar a sentir, a me emocionar e a relembrar o que importa: todo o amor que recebi. E venho dia após dia fazendo o possível para honrar a vida que me foi dada e cuidada com tanto carinho nos anos em que estivemos juntos.


Quando lembro dos meus pais e conto para meus amigos, o que aparecem são histórias engraçadas, trágico-cômicas e, também, de muito amor e superação. As lembranças, em sua maioria, são excelentes. As de infância, então, são sempre as melhores! São lembranças de pais carinhosos, apaixonados, trabalhadores, voltados ao nosso círculo familiar. Sempre nós três junto. Ah, e dezenas de bichos de estimação! Todo ano era alguma surpresa: cachorro novo, gatos, passarinhos, coelhos e até hamsters (que não duraram duas semanas, pois meu pai morria de medo dos “ratos”).


Para mim, o maior amor do mundo são os nossos pais, a família. Afinal, a família é quem cria, rega e entrega para o mundo. Tivemos por muitos anos uma vida em família com muito amor, afeto, trabalho e lindas histórias. Assim como essa da gruta.





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